“O baú” – porque o temos?

Todos temos um baú.

Guardamo-lo a sete chaves e por vezes livramo-nos delas para nos esquecermos dele.

Há quem precise duma caixa, há quem precise dum contentor, mas todos gostamos de guardar e por vezes arquivar bocados da nossa vida.

Uma folha encontrada no chão pode encerrar uma história de quem a encontrou. Pode também ser o começo duma nova história. Pode apenas ser parte duma história muito maior, duma árvore com muitos ramos onde esta folha fez o seu destino.

Uma pedra, uma simples pedra fria e cinzenta, redonda ou laminada… uma pedra, objecto que parece nada ser. Mas uma pedra pode ter sido o banco de mil histórias e de outros tantos sussurros. Uma pedra, fria e muda que pode guardar para sempre em segredo quem ao seu colo partilhou os sonhos e as desilusões. Uma pedra, que pode ferir mas que pode também amparar os males pantanosos.

Um bocado de metal, redondo por sinal. Nada mais que um condutor rígido mas que esculpido transmite algo que em bruto não consegue dizer. Estranha forma de falar é esta que precisa da metamorfose como meio de revelar o que sente a alguém. No entanto, tanto diz ou tanto lembra. Pode valer pelos seus contornos mas o seu verdadeiro valor esconde-se no tempo de quem o encontrou.

Tudo pode ser guardado no baú. Tudo.

Guardamo-lo num local tão fundo e tão nosso, que chegar a ele encerra enormes perigos.

Isto porque esquecemo-nos do que lá encarcerámos, de tudo o que não fomos capazes de atirar para a lareira e atear fogo numa qualquer noite mais fria. Mas sobre isto mais teremos de reflectir.

Mas… porque o temos?

Experimentem pegar no tempo e atear fogo ao mesmo, verão o quanto arde na nossa cara.

Experimentem colar folhas partidas numa árvore num dia de chuva, verão o trabalho que dará.

Experimentem admitir que o céu afinal não tem cor, quando acordam e o vêem azul a olhar para vós.

Embrulhar parte do tempo, comprimi-lo e metê-lo num baú é bem simples.

Há tanto espaço para esconder as folhas partidas debaixo do seu forro.

Tirar e guardar a aguarela azul da paleta de cores, num cantinho do baú… há lá tanto espaço.

O baú é tudo aquilo que não admitimos mas que faz parte de nós.

Ele molda quem o guarda, consoante o que guarda.

O problema é quando ele se torna tão grande que consome o seu dono…

SF

Uma resposta to ““O baú” – porque o temos?”

  1. Pedro Marques Says:

    Mto bom Sergio! 😉

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