Está frio mas é Verão.
Sopra um vento sem direcção, enquanto olho para aqueles pirilampos lá em cima.
É de noite, mesmo de noite, de tal forma que se conseguem ver os seus olhos brilhantes.
Caminho mesmo juntinho à espuma salgada, quase sentindo o seu sabor.
Uma cova escavada na encosta da areia separa o deserto árido das águas que se banham sobre ela.
Paro e reparo que as águas correm umas sobre as outras, argumentando e contra-argumentando, engolindo-se a si próprias.
Mas cedo renascem e também cedo desvanecem.
Uma força enorme as atira constantemente.
Uma força enorme as recolhe.
Os pirilampos admirados lá bem alto, piscam os olhos uns aos outros.
De vez em quando deixam cair uma lágrima brilhante, a que chamam "estrela cadente".
Tanta vontade têm de sentir esta brisa que se atiram do espaço mas quando se aproximam o seu brilho desaparece, engolido pela audácia de quem tudo quer.
São tantos que não sentem a falta uns dos outros, quando um deles se perde pelo encanto da onda do mar que o ofuscou.
Está frio.
Estou hipnotizado pelo som das ondas que falam sempre em línguas diferentes. Quando começo a ser capaz de distinguir dois ou três fonemas e me atrevo a dizer três ou quatro palavras, vem uma onda que abafa a primeira, fala num dialecto diferente e deixa-me novamente sem palavras.
Afasto-me pois entretanto o mar subiu e quase que engolia a encosta que me sustentava.
Está na hora de voltar costas, não ao mar, não ao espaço que tem aqueles estranhos seres que anseiam estar a 2 metros das ondas cada uma diferente.
Mas está na hora de voltar costas, porque amanhã sei que se aqui voltar o mar ali estará para me surpreender e me encantar… da mesma forma que seduz os pirilampos lá nos confins do espaço, os tenta e os engana, pois enquanto eles se atiram para falar com aquela onda que viram nascer… ela cresceu, diminuiu e desapareceu.
SF